****** UMA HISTÓRIA REAL *******
Eu era novata.
Não sabia muito de computadores e meio frustrada. Vestia meu vestido curto, colar brilhante no peito, coberto é claro, mas brilhava tanto... além da minha jaqueta de couro free. Parecia que era a unica coisa a ser feita na Second Life.
Parecia que faltava algo nos detalhes e na comunicação na Second Life para mim. Eu via avatares masculinos correndo pra lá e pra cá com acessórios anexados que não dá mencionar.
(Claramente estive em lugares errados)
"Deve ter alguém interessante em algum lugar" ...pensei. "Talvez tenha alguém legal no Iate Clube".
Pesquisei e encontrei o Iate Clube Nantucket e teletransportei-me para lá.
Havia um homem.
Sem anexos idiotas, sem skin extravagante, sem palavras no chat.
E totalmente estranho.. ele não dizia nada!!
Eu disse "olá", mas ele não respondeu.
Quando você é novo na SL, você não sabe nada de lag no chat, AFK, avatares invisíveis… então eu achei que aquela pessoa estava realmente me ignorando.
Eu disse "olá" novamente.... Sem respostas.
Saí para andar e olhar os barcos. Um após o outro. E então cheguei novamente no local onde o homem estava. e insisti: – Eu disse "olá" novamente.
...Nenhuma resposta.
Determinada, eu perguntei: "Você tem algum barco aqui?"
*Suspiro*
Saí andando muito descontente por ter sido ignorada por repetidas vezes. Então… enquanto eu estava saindo… estranhamente eu vejo algo na minha tela… "Sim".
Talvez ele não fale inglês - pensei.
E então vieram as próximas palavras dele:
- Velejar?
Isso foi estranho. Não estou acostumada com isso. Mas claramente esse homem (que eu assumi que não falasse um bom inglês) estava convidando-me para velejar em seu barco!
Eu aceitei, já que não tinha feito nada de interessante na Second Life ainda, e aquilo foi bem animador. Eu estava no meu melhor comportamento e seguia o homem enquanto ele caminhava pela doca até chegar ao seu iate.
Velejar foi sensacional! (apesar de ser no mais completo silêncio!!)
Nunca tinha experimentado nada com aquilo! Perguntei se eu podia tirar algumas fotos. Ele disse "sim".
O mar, a ilha, as curvas, os comandos, um capitão num pequeno iate, velejando apenas para mim. Eu fiquei muito lisonjeada. Depois de um bom tempo no mar, retornamos às docas.
O homem parou à minha frente e saiu andando, sem falar nada - em direção a um clube.
Bem, como eu sou do tipo que gosta de falar, não podia aceitar esse silêncio. Eu o segui e perguntei "Qual o seu idioma?"
Sem resposta.
Aquilo era confuso.
Haviam outras pessoas no clube. Ravishal e Izabella. Rav (a quem eu nunca tinha visto antes) mandou-me um MI.
"Você leu o perfil dele?"
Eu era nova na Second Life. Por que eu faria uma coisa dessas?
Então eu li.
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Aquele momento mudou minha Second Life.
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O nome do homem era Djduerer Zou.
- Ele se apresenta em seu perfil….
*Amigável, legal, alto, doente em cama, marinheiro,
* Mal posso digitar
* Dificuldades para enxergar também
* Meu estado piora nas tardes da SL time
* Sou lento
* Use gestures para falar
* Tenho uma doença terminal na vida real (morrerei logo). Uma doença cerebral progressiva. OPCA conhecida como MSA.
* Sem reclamações, vivi apaixonadamente
* SL é a minha vida
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((**OPCA = é um termo que descreve a degeneração dos neurônios em áreas específicas do cérebro. MSA = Sistema Múltiplo de Atrofia, também conhecido com o Síndrome de Shy Drager - distúrbio degenerativo caracterizado por danos progressivos ao sistema nervoso autônomo))
Eu nunca poderia imaginar que leria algo sobre isso no Second Life. Nunca imaginei que encontraria alguém assim no Second Life.
A realidade da situação fez minha mente girar.
Eu velejei com um homem que estava vivendo os últimos dias de sua vida real aqui, no Second Life, vivendo a vida real que ele conhecia. Como marinheiro.
Meu computador era um borrão. Havia algo diferente aqui, eu entendi isso.
Djduerer digitou:
"dance"
"Acho que ele está convidando você para dançar" escreveu Ravishal no meu MI.
Depois de um tempinho dançando, fui para fora e parei meu avatar olhando para o mar.
Pensando.
Desloguei do Second Life com um buraco dentro de mim, mas ao mesmo tempo, uma faísca, um sentimento de que há alguém real atrás desses avatares.
Depois desse dia eu retornei duas vezes para encontrar Djduerer, e nas duas vezes ele me levou para velejar. Eu tirei meu colar brilhante e alonguei meu vestido!
Falei com ele, sem esperar resposta.
Lembro de ter falado uma vez para ele, enquanto estávamos velejando:
"Você deve ter tido uma vida real maravilhosa no mar".
A resposta dele me deixou feliz e triste ao mesmo tempo…
"Simmmmmmmmmmmmmmm" ele disse.
Algumas semanas depois ouvi de alguém que Djduerer tinha falecido.
Três anos depois, ou mais, enquanto ajudo novatos no Second Life, essa experiência nunca sai da minha mente.
Vejo muitas coisas no Second LIfe - algumas não tão legais. Mas coisas maravilhosas também.
Mas em nenhum momento nada me ensinou tanto quanto aquele dia em que encontrei Djduerer Zou e descobri quem realmente estava atrás do avatar.
Vejo esses jovens avatares "fazendo suas coisas" e não posso fazer nada, mas imagino se eles gastaram um minuto para saber sobre a outra real pessoa com quem estão falando.
Talvez eles não tenham conhecimento sobre a comunidade no Second Life.
Hoje, com quase toda pessoa que eu conheço, entendo perfeitamente que nem sempre a pessoa com quem estou falando é representada de alguma maneira pelo visual que ela apresenta.
As pessoas entram no Second Life por várias razões e para cada palavra digitada há uma pessoa real criando essa palavra.
Tenho usado minha experiência com Djduerer para explicar sobre o Second Life aos outros que são novos aqui e ajuda-los a ter uma mente aberta.
Duvido que a minha presença no Second Life significou algo para Djduerer. Fiquei ao lado dele, velejei um pouco, deixou-me feliz, porém a presença de Djduerer no Second Life significou muito para mim.
Ele me ensinou a lição mais importante que eu já tive aqui.
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Desde então, eu converso com a esposa de Djduerer Zou na vida real, que também é uma residente do SL. Gostaria de dizer a você o que ela me disse sobre o tempo em que ela e Djduerer passaram juntos comigo.
Ela disse que quando ele ficou doente, e a vida real era uma grande experiência para ambos, eles entraram para o Second Life juntos e viveram da mesma maneira que sempre viveram suas vidas reais.
Dançando, explorando, velejando. Ela disse que no final de sua vida, Second Life deu a Djduerer uma maneira de viver novamente a vida real que ele tinha perdido.
É claro que, ela acredita no poder do Second Life, e no que ela pode proporcionar para algumas pessoas.
Todos nós temos momentos de tristeza no Second Life, mas felizmente muitos, muitos e muitos momentos de alegria, de desenvolvimento, risadas e felicidade.
Mas nunca nos esqueçamos - pense como nos relacionamos com as pessoas - a gente nunca sabe quem eles são.
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Treacle Darlandes.